IV - Sem Destino!




Dez e meia da noite de sábado, um sábado fresco, cheio de gente naquela noite castanha de Outubro.

Pedro já estava com João, o amigo inseparável, das noitadas, dos risos e disparates… da vida!
Os dois praticamente da mesma idade… 37 contava o Pedro contra os 34 do João… estilos completamente diferentes, um mais formal o outro mais informal! Ossos do oficio!

Decidiram jantar os dois pelo “Bairro”, se a coisa corresse muito bem cada um retornava a sua casa, se a coisa corresse mal e os copos falassem muito alto João ficava-se a dormir pelo “Bairro” na casa de Pedro!

Nesse jantar do Bairro falaram, falaram e conversaram e beberam, sempre devagar eram dois apreciadores de bom vinho, gente gira, boa comida, mais gente gira e muitas outras coisas, a tribo gay não incomodava, estavam bem em todo o lado! …
Toda a conversa do jantar girou em volta de “Mafaldas”, “Joanas”, “Filipas”, “Carlas”, “Patrícias”, de tudo apareceu um pouco… A certa altura parecia uma reunião de dois conservadores a registar nomes.

Por fim surgiu o nome que se impunha, naquele momento… Maria…
- Aconteceu!?... confessa!
- Pá… não entres nessa… nessa não…
- Comeste! Estás "à rasca"…
- Pá! João, a Maria é só uma boa amiga!... Uma grande e querida amiga!
- Sim e eu sou o pai natal… Deixei as renas no parque mas vou já buscá-las!
- João, foi um acidente, não devia, não queria… A culpa é do Whisky… Muitos copos… Eu estava mesmo a ver!
- Anima-te meu… A sério… Estás vivo… Sobreviveste… isso é bom!
- Como? – Pedro não estava a perceber!
- Meu… Sobreviveste!
- Estúpido! Pá! Que estupidez… – dizia Pedro não conseguindo conter algumas risadas envergonhadas! … - Não fales assim… Na verdade estou “à rasca”, na verdade tenho medo do que a Maria esteja a sentir, nunca mais lhe disse nada! Desde quarta!
- E ela? – A pergunta de João impunha-se, afinal ambos achavam que aquilo não podia acontecer e Maria não devia estar bem!
- Também não! Nem um sms, nem na net… Nada! Estou um bocado sem saber o que fazer ou dizer!...
- Deixa ir... deixa andar - João tentava acalmar um Pedro nervoso, mais medroso do que nervoso!

A conversa continuou, entre muitas risadas, algumas confissões de ambos os lados, alguma palermice à mistura, a palermice de dois homens que se conhecem bem, para confessarem aventuras, paixões e lágrimas um ao outro!

Chegaram ao fim do jantar com uma leveza no espírito, prometendo mais jantares assim: “Mesmo quando fossem velhinhos, casados – o João dizia que não – e avós de uma série de netos!”.

O destino seguinte era não ter destino!

Uma volta por ali, ver quem passa, quem está… Rir mais um bocado!... Ver… Olhar e observar… Ser visto!

Nenhum dos dois tinha compromissos, melhor… Pedro estava sem compromissos amorosos, João tinha compromissos pelos dois e por mais dois ou três… Mas tudo feito “à maneira” como costumava dizer! Sem que ninguém se zangasse com ninguém! Tudo longe dos sítios onde habitualmente se movia, longe...


Pedro conhecia duas, uma Sofia… Morena, alta… nunca percebeu muito bem o que o amigo tinha visto naquela Sofia, mas ok. E uma Madalena, gira… Talvez a miúda mais gira que Pedro conhecia, mas infelizmente, muito mais nova. Vivia para a moda, a moda quotidiana, a moda fútil, a moda desprovida de miolo, de conteúdo, oca! Pedro não tinha por hábito comentar as namoradas dos amigos, normalmente fazia um esforço para gostar de todas. E para que se sentissem as únicas, principalmente no que se referia a João!


Pararam num bar, onde a tribo dos “intas” pára e por ali permaneceram em mais conversas, desta vez o assunto era trabalho. Pedro preparava-se para assumir novas funções, mais responsabilidades, mais trabalho. João assumia-se como Produtor, a vida começava a andar. Calmamente!


Saíram do Bairro e foram para o bar onde sempre paravam, a “mãe de água” como carinhosamente chamavam a duas salas com pouco mais de 120 metros quadrados era o local onde normalmente terminavam a noite, salvo raras excepções, essa noite podia ser uma delas… Tinha inaugurado um novo sitio de animação nocturna… era um bom sitio para ir… João gostava destes espaços novos… “São bons locais de caça” – dizia em tom de brincadeira!


Desceram, com o frio sempre a refrescar o passo, já perto da uma da manhã chegaram à mãe de água mais lotada de Lisboa. Subiram os degraus e depois dos habituais cumprimentos na porta entreaberta...
Já no hall de entrada, João dá uma risada e o Pedro apenas diz:
- Fogo! – entre os dentes, para o amigo – Olá Maria!

1 comentário:

  1. Quanto mais fugimos mais depressa somos apanhados...todos nos sabemos que mais tarde ou mais cedo somos "apanhados"!...é a vida...

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