I - Negativo!


Deu negativo! Ainda bem! O relógio biológico já toca, já tocou, está farto de tocar! Mas é melhor assim, afinal o pai seria...o meu acto falhado! Acabámos de acabar e nunca iria dar certo.

Preciso deles! Dele e dela. Vou combinar qualquer coisa. Não consigo estar sozinha.. Os pensamentos confundem-se, quero pensar em tudo menos no que não paro de pensar!...ou em nada! O melhor seria mesmo pensar em nada, o vazio, uma mente livre de interrogações, recriminações... Estou farta desta sensação de que poderia (ou deveria) ter feito tudo de outra forma.

Porque será que continuo a insistir na procura do Amor? E enquanto não encontro a pessoa certa, vou-me divertindo com as erradas? Então porquê este sentimento de culpa? Esta sensação de derrota? Estou com 35 anos e emocionalmente vazia...

A vida deveria ser como nos sonhos, imprevisível, mas irreal, confusa, mas imaginária, descoordenada, mas efémera, basta acordar! E depois não é preciso lidar com nenhuma consequência de nenhum acto falhado ou impensado. Basta voltar a dormir e tentar continuar a história, se nos agradar, ou evitar se não valer a pena.

Está a chamar!

- Estou sim, Margarida, preciso de vocês! Consegues reunir o trio? Vamos jantar, lanchar, cear. Qualquer coisa! Mas preciso mesmo de vocês! Estás livre no sábado? Ou ainda andas numa de paixão com o “é-só-para-passar-um-bom-bocado”? Quero-vos só para mim!!!...

- Outra crise existencial, Inês? Vou ligar ao Afonso e não te preocupes com mais nada. Sábado está óptimo para mim e prepara-te que tenho uma surpresa...

- Espera! Acho que preferia um jantar com vocês os dois, regado com um excelente vinho, uma lareira acesa, pantufas e pijamas...

- Oh careta! Vamo-nos aperaltar e vamos à inauguração de mais um espaço nocturno Lisboeta. Tenho convites...

- Hummm, não sei! Combina o jantar com o Afonso e decidimos na altura. Beijos gigantes. Adoro-te!

Preciso de paixão na minha vida. É isso! Só me volto a envolver com alguém quando estiver verdadeiramente apaixonada, quando tudo fizer sentido, quando voltar a sentir as borboletas a voar, dentro de mim, algures no estômago e perto do coração. “Quem não vive um amor extraordinário vive uma pura perda de tempo”... e eu estou tão farta de perder tempo...Já não sei onde li esta frase, talvez a legendar uma fotografia de um casal apaixonado, num site qualquer. Vou à net! Bombardear a mente com informação! Tudo é melhor do que pensar no bebé que nunca foi!

Não vou dizer nada ao André! Afinal ele também estava a léguas de distância do meu atraso, das dores nas costas, das mamas desproporcionalmente inchadas, do desejo estranho de querer e da vontade maior de (ainda) não (poder) ser. Não com ele! Ele está na dele, na mais pura ignorância dos meus sentimentos e longe de se aperceber desta confusão mental. Se pudesse, nunca mais o voltava a ver! Não me apetece ouvi-lo, tocar-lhe, senti-lo... Será que ele ainda não percebeu que entre nós não faz sentido? Porque continuamos a insistir e a adiar o inevitável: a separação, seguida de uma eventual amizade, talvez distante. Não, com o André é tudo definitivo, mesmo que nunca o venha a ser. Espero que ele não me ligue! Vou desligar o portátil, o telemóvel, qualquer ligação ao mundo. Não consigo deixar de pensar!

Vou tomar um banho, mergulhar na espuma e ondular-me na luz das velas e chorar, preciso de chorar!

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